Observador do Planeta

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

A Educação ladeira abaixo

segunda-feira, 19 de setembro de 2022


Jovens sem rumo, sem paradeiro, sem limites. Quem já teve a experiência da juventude, com seus hormônios em ebulição e humores descontrolados, sabe como é essa fase complicada. Um mundo de transformações se apresenta e se faz sentir, intensamente. Regras complicadas, difíceis responsabilidades.

Aos mais maduros, especialmente os pais e os professores, cabe dar aquela moral à galera, para uma travessia menos traumática e mais 'educativa' dessa época. Ensinamentos, talvez mais do que com exemplos do que com conselhos, estes normalmente rejeitados, ajudam a construir a personalidade e solidificar valores, aspectos de suma importância para formar adultos bem resolvidos.

É aí que os limites entram na história: o que pode, o que não pode, o que se deve, o que não se deve. O que se admite e o que não se tolera. Sem esses conceitos, a vida em sociedade seria impossível. Tem coisa que não pode, não se deve e não se pode tolerar. Como o que aconteceu, na semana passada, no centenário Colégio Pedro II, na unidade do bairro carioca de Realengo.

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O noticiário dá conta de que quinze alunos tomaram parte num episódio de sexo grupal, no último dia 15. Oito ativamente, 'em pares', e sete como voyeurs, observando os colegas e, claro, vigiando a presença da vigilância. Menores de 12 a 17 anos e uma menina de 19 - já maior - envolvidos. Uma sala num local ermo da unidade, bem no horário da mudança de turno dos inspetores. E trocas de mensagem por WhatsApp, fazendo a propaganda da violação das regras: das de conduta moral, em termos gerais, e as disciplinares, da escola.

A jovem de 19 anos, pela maioridade penal, corre o risco de ter imputado a si o crime de estupro de vulnerável. A escola revelou o caso apenas quatro dias depois, alegando a preservação dos alunos, que foram suspensos por cinco dias, sem detrimento de uma investigação policial, dada início pelas autoridades.

O caso ganhou repercussão pelo fato de se tratar de uma das instituições de ensino de maior prestígio do Rio de Janeiro e do Brasil. Fundado há 184 anos, em 1837, o Pedro II é mantido pelo Governo Federal e tem historicamente a reputação de ser um colégio de excelência, cujo ensino vem favorecendo a aplicação de seus alunos para as melhores universidades. A disciplina da escola também tem um bom histórico, pelo menos até a lacração que começou nos estertores dos governos petistas.

O Pedro II, atualmente, possui catorze unidades e cerca de 13 mil alunos. Possui, também, uma penca de problemas com regras de conduta e convivência, por influência canhota, que vêm afetando o sucesso do colégio naquilo a que ele se propõe: formar cidadãos.

Desde quase uma década atrás, a escola vem sofrendo a influência de um forte ativismo esquerdista, especialmente no quesito ideologia de gênero. Em setembro de 2016, uma portaria listou o uniforme do colégio, sem distinguir as peças como sendo específicas de uso masculino ou feminino. Antes, as meninas deveriam usar saia e camisa branca com viés azul e os meninos, calça de brim e camisa totalmente branca. Na prática, liberou-se o uso de saias pelos garotos, que era o que se pretendia de fato.

Naquela época, a demência fingida quanto às especificidades do vestuário dos alunos, da parte do reitor Oscar Halac, foi explicada pela intenção de não se fazer distinção de gênero nem constranger alunos trans, cumprindo, deste modo, uma resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (um órgão ligado ao Ministério da Justiça). As opções de uniforme ficaram em aberto, propositalmente, embora o reitor tenha reconhecido que essa decisão pudesse 'causar certo furor', pela própria tradição do Pedro II. Palavras dele, na ocasião, fechando seus próprios argumentos: 'tradição não é sinônimo de anacronia, mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar'.

Fato é que a gente sabe exatamente o que se pretende com a usurpação de costumes e normas sociais, em especial no âmbito do ensino público. Certo tipo de manifestação não se vê em escolas ou universidades privadas, mas a dispersão de responsabilidade dentro do serviço público favorece que haja certa frouxidão nas instituições letivas do governo.

No Brasil, com o avanço do sucesso da campanha de Bolsonaro à reeleição e a percepção fortemente disseminada, no mundo, de sua importância para o reequilíbrio das forças políticas do planeta, a partir da vitória sobre a ascensão do comunismo, os ataques gramscistas vêm se intensificando nos três principais flancos históricos, na pretensão de destruir as bases da sociedade tais como as conhecemos.

Nas artes, as hostilidades dos órfãos da Lei Rouanet culminaram, esses dias, com o lançamento de um hino contra aquele que eles resolveram chamar de 'o inominável'. Sendo inteligente, você sabe quem ele é e, principalmente, que ele não é o que essa turma apregoa ser.

Na imprensa, ah, a extrema imprensa, o noticiário tenta, tenta, tenta muito, mas não consegue emplacar crimes contra ele, o que faz com que se inventem ou se distorçam fatos, para desenvolver narrativas, que acabam abandonadas (por sua incapacidade de gerar interesse) e esquecidas nas gavetas das redações.

E, na Educação, sobra para toda uma geração perdida, condenada a não desenvolver discernimento suficiente para compreender o mundo tal como ele realmente é. Forjam-se zumbis reféns de discursos erráticos ou vazios, criados com o intuito da manipulação perene de mentes frágeis, cooptadas para a aceitação cega de todo tipo de mentira contra exatamente quem trabalha para libertá-las dos grilhões da ignorância fabricada.

O projeto das escolas cívico-militares, não por acaso, é um caminho de luz. Ideia do Presidente, pautada no mesmo nível de excelência das escolas militares e de colégios como o Pedro II, vem como uma escolha crucial a se pôr diante da realidade de milhões de crianças e adolescentes, para que se tornem boas pessoas, com formação intelectual e moral digna.

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Talvez o episódio da orgia escolar não seja o único desses nossos tempos atuais. Talvez nem seja o delito mais grave que temos observado nas nossas casas letivas, embora possa caracterizar crime pelas circunstâncias. Mas, certamente, acende mais um alerta vermelho quanto à necessidade de corrigir os rumos e dar estradas retas, para que a nossa garotada siga, em segurança, para o futuro.

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domingo, 11 de setembro de 2022

Mulheres que fazem a diferença

segunda-feira, 12 de setembro de 2022


O mundo perdeu, no último dia 8, uma mulher de importância indiscutível na História contemporânea. Uma figura de destaque em acontecimentos determinantes do planeta, que deixou impressa sua marca em 70 anos de reinado.

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Elizabeth Alexandra Mary, a Rainha Elizabeth II (ou Isabel II, nos termos como se referem os portugueses), Rainha do Reino Unido e dos Reinos da Comunidade de Nações, assumiu o trono em fevereiro de 1952, com 26 anos.

Com 19 anos, em 1945, a então princesa Elizabeth juntou-se ao Auxiliary Territorial Service (Serviço Territorial Auxiliar, em tradução livre), um grupamento de mulheres que serviam como voluntárias em funções variadas para o exército britânico. A família real foi aconselhada, na época, a se refugiar do conflito mundial no Canadá, com o que não concordou, mesmo sendo Londres uma cidade extremamente visada pelos bombardeios nazistas. Mais do que simplesmente não deixar o país, Elizabeth cerrou fileiras no campo de batalha da Segunda Grande Guerra, o que explica e justifica a inquestionável admiração do povo britânico por ela.

Em 1947, casou-se com o Duque de Edimburgo, com quem viveu por 73 anos, um amor de infância que ensejou troca de cartas desde seus treze anos de idade. O casamento, o primeiro a ser televisionado na História, contrariou a opinião dos conselheiros reais, que não achavam o noivo, Philip, Príncipe da Grécia e Dinamarca, um homem à altura da responsabilidade de ser o marido da futura rainha. Tanto por sua origem estrangeira, quanto pela existência de parentes alemães, inclusive suas três irmãs, que não foram convidadas para a cerimônia.

A monarca mais longeva da história da coroa britânica passa para a posteridade como uma digna representante do que deveria ser entendido como feminismo. 'Deveria', se feminismo fosse compreendido no âmbito de feitos verdadeiramente importantes, empreendidos por mulheres, que engrandeceram a humanidade.

Propôs-se ao desafio de viver a guerra de perto, encarou com firmeza o destino de comandar seu país, enfrentou a resistência tentada impor à sua escolha particular, para a vida conjugal. Foi, por esses e tantos outros feitos, uma mulher forte, ciosa da responsabilidade de ter seu nome inscrito na História.

Nem todas as ações de mulheres de destaque no mundo de hoje estão em sintonia com a causa do seu autêntico fortalecimento social ou político, que o neologismo 'empoderamento' tem a pretensão de significar.

Como, também, vários feitos históricos em benefício das mulheres, indistintamente realizados por mulheres ou homens, acabaram sendo mal interpretados e até rejeitados, por muitas delas. Há um exemplo que me parece bastante emblemático, de anos atrás, trazido à baila pelo Papa Emérito Bento XVI.

Em 8 de março de 2009, um Dia Internacional da Mulher, o L'Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, publicou uma reportagem com o título: 'A máquina de lavar e a emancipação da mulher'. Contra o teor da matéria, que defendia o eletrodoméstico como verdadeiro símbolo de libertação feminina, vieram reações raivosas, indignadas ao extremo, defendendo como emancipadoras outras realizações, como o trabalhar fora, o acesso à pílula anticoncepcional e a liberalização do aborto.

Bento XVI foi alvo dos piores deboches por parte da mídia mundial. Na TV Globo, o domingo facilitou que se compusesse uma vinheta, veiculada a cada intervalo comercial do Fantástico, para introduzir opiniões de 'especialistas' - aqueles que a gente conhece bem, garimpados nos botequins da vida - sobre o assunto. Uma deputada do parlamento italiano chegou a dizer que o jornal deveria 'discutir a realidade, como o medo que as mulheres sentem quando estão nas ruas ou entre as paredes de suas próprias casas, em vez de entrar num debate abstrato sobre o sexo'.

Pouca gente conseguiu assimilar o que a reportagem pôs à mostra e, assim, o ridículo proposto pelos argumentos (ou pela falta deles!) da geração Paulo Freire, aquela que é incapaz de uma interpretação de texto das mais básicas, calou a discussão. Pena que nem professores de História, que deveriam conhecer como caminha a humanidade, se mostraram aptos a iluminar o caminho do pensamento, nessa hora.

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A rainha dos memes da internet, lembrada sempre exatamente por sua longa experiência de vida e participação em vários dos momentos importantes da História, nos séculos 20 e 21, saiu de cena. Chegou o seu tempo, como acontece com todos. O que vem à mente, quando nos damos conta dessa perda, é torcer para que, cada vez mais, se destaquem, em sua real importância, mais mulheres com o mesmo brio e igual talento. Que surjam novas 'Elizabetes', no mundo, para ensinar um pouco da sabedoria e da arte de ser uma grande dama.

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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Respeitem o Museu Nacional!

segunda-feira, 5 de setembro de 2022


Nesta sexta-feira, dia 2, fez quatro anos que o Brasil perdeu um de seus museus mais icônicos, parte significativa da própria História do país, de seus tempos de colônia de Portugal e de Império das Américas. Num domingo quente de 2018, a casa de força do Museu Nacional, da Quinta da Boa Vista, ardeu em virtude de um curto circuito, igual a muitos outros que ocorreram, por inúmeras vezes. A última delas, por sinal, no domingo anterior ao fogo que devastou o Palácio Imperial, pouco mais de uma hora depois do fim do horário de visitação.

O único vigilante que tomava conta do prédio nada pôde fazer, além de chamar os Bombeiros, é claro. Como nada fez também o sistema de prevenção contra incêndio, destroçado pela falta de manutenção e pela absoluta irresponsabilidade dos administradores da instituição.

Em plena Semana da Pátria, enquanto São Paulo reinaugura o Museu do Ipiranga, em comemoração ao Bicentenário da Independência, no Rio deu-se um evento patético: a 'reinauguração', com pompa e circunstância, da fachada, isso mesmo, da fachada do Paço de São Cristóvão. Ornada com disfarces para esconder que o edifício remanesce em escombros até hoje, como se o incêndio houvesse acontecido há poucos dias e já não tivessem sido consumidos centenas de milhões de Reais na recuperação do prédio.

A pergunta que não quer calar é: quem matou - e continua matando - o Museu Nacional?

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Depois do princípio de incêndio de 26 de agosto de 2018, uma semana antes da tragédia, provocado por um gato (não a ligação clandestina, mas um bicho, que acessou, como muitos outros, em ocasiões anteriores, a casa de força, provocando contatos elétricos que não deveriam ser provocados), parte significativa do acervo chegou a ser recolhida do museu, nos dias seguintes, deixando redomas ostensivamente vazias. Uma retirada frenética de itens aconteceu nos três dias que antecederam o fogo, o que, na boa vontade, pode-se creditar ao pressentimento de uma tragédia anunciada. Na má vontade, contudo... Recomenda-se investigar mais a fundo.

Fato é que, pelo menos desde 2016, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal já tinham conhecimento de episódios de incêndio e até de furto de acervo. Como se não bastassem esses eventos pregressos, desde algumas semanas atrás, o portal do Diário do Rio vem repercutindo reportagens do Jornal do Brasil, que denunciam um esquema de corrupção nas obras, com uso irregular do dinheiro destinado à reforma do Museu, que vem sendo desviado de sua finalidade, sob as barbas de quem deveria zelar por ele.

Todos esses acontecimentos se juntam para atestar o óbvio: a Universidade Federal do Rio de Janeiro não tem condições de gerir o Museu Nacional. E ponto. Desde os anos 1940, quando aconteceu o primeiro incêndio no palácio, de pequenas proporções, isso vem sendo discutido. Mas a vinculação do museu à universidade, ainda que inadequada por uma série de aspectos administrativos, acabou prevalecendo.

Em 1991, o Banco Mundial fez uma oferta, de US$ 80 milhões - cerca de R$ 400 milhões pelo câmbio atual - para assumir o museu e dotá-lo de condições adequadas de funcionamento. A negociação se deu por intermédio do ex-prefeito Israel Klabin, que fora aluno de Engenharia da Escola Politécnica. Mas o meio acadêmico da UFRJ deu chilique, esperneou com a 'ousadia', e a vaidade da 'autonomia universitária' fez valer a sua força: aí, nada de 'intervenção externa'.

O valor desse investimento deixado de fazer, há 30 anos, equivale ao montante que se prevê gastar, hoje, para reconstruir, dentro do possível, o museu, a partir de suas cinzas.

A reforma que vem sendo conduzida - ou que não vem sendo conduzida, já que o cenário de destruição do local é basicamente o mesmo de quatro anos atrás - tem ainda outro aspecto a ser discutido. Os gestores da reforma do Museu Nacional precisam compreender que o Rio de Janeiro e o Brasil não querem uma ruína gourmet. De paredes brutas, com tijolos sem emboço, e vigamentos de aço sustentando passadiços modernosos, saídos das alucinações de arquitetos cuja criatividade mostra-se sem compromisso com o valor e a história do Palácio Imperial. O Paço de São Cristóvão merece e precisa ser reconstruído segundo seu aspecto original. Há um resgate a ser conduzido, com critério e, acima de tudo, responsabilidade. Não existe escolha: a descaracterização é inegociável e deve ser refutada com todos os argumentos e por todos os meios.

Respeitem, pois, o Museu Nacional!

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Em breve, numa nova oportunidade, vou me permitir falar de outras mazelas que remetem à UFRJ. Não por implicância gratuita, mas pelo alerta contra o seu desmantelamento. Exatamente pelo carinho que possuo pela universidade. Tenho dez dos meus 60 anos vividos na Ilha do Fundão, como aluno de graduação e de mestrado, tempo durante o qual aprendi, junto com os ensinamentos dos Professores, a valorizar e respeitar aquela casa. Casa, no sentido mais acolhedor que a palavra possui.

Quero crer que entremos, a partir do ano que vem, numa nova fase do processo de recuperação das instituições públicas de ensino, em particular das de ensino superior. Nossas universidades têm gente competente, para que se tornem centros verdadeiros de produção de conhecimento. Sem paixões políticas insanas nem contaminação ideológica de efeitos devastadores.

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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Justiça sem juízo

segunda-feira, 29 de agosto de 2022


O dístico da Bandeira Nacional é categórico em relação ao que os brasileiros pretendem para o seu país: Ordem e Progresso. A expressão dessa ordem está na liberdade de expressão e de opinião; de escolha de preferências as mais diversas, das político-ideológicas às de credo e de opções de modo de vida; de exercício profissional amplo, regido somente pelo conhecimento técnico, amparado e norteado pela bússola moral. O progresso, por seu turno, vem das conquistas obtidas pela sociedade, por meio do exercício sadio e bem orientado dessa liberdade.

Entretanto, tem gente a quem a liberdade parece incomodar, ou até intimidar. Gente essa que, em reações absolutamente estapafúrdias, tenta impor normas saídas de sua mente doentia como se fossem dispositivos legais, estabelecidos de modo legítimo pela sociedade.

Qual é o limite da tolerância aos abusos cometidos pelo poder constituído ao qual deveriam caber a observância às leis e a mediação (em vez da multiplicação) de situações conflituosas?

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O ministro Alexandre de Moraes - a gente evita o quanto pode pronunciar esse nome, mas, funestamente, as circunstâncias nos obrigam a fazer isso, a cada nova suprema presepada - decidiu, depois 'desdecidiu', em parte, pelo menos, proibir a propaganda oficial do Governo Federal, em comemoração ao Bicentenário da Independência, veja só. Na visão tosca do nosso todo poderoso imperador eleitoral, haveria 'viés político' no conteúdo.

Na primeira decisão, que vetou a propaganda por completo, Xandão I, O Glande, fala, em seu despacho, em 'slogans e dizeres com plena alusão a pretendentes de determinados cargos públicos, com especial ênfase às cores que reconhecidamente trazem consigo símbolo de uma ideologia política'. A mais lustrosa das cabeças de nossas cortes, ela sim, com isso, conseguiu imprimir viés político-ideológico, de modo escancarado, às cores da bandeira do Brasil, praticamente estabelecendo que elas fossem prerrogativa ou propriedade de um grupo.

Pouco mais de um mês atrás, a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular do cartório eleitoral de Santo Antônio das Missões e Garruchos, duas cidades do oeste gaúcho, sendo esta última quase na fronteira com a Argentina, chegou a advertir a representantes de partidos políticos que a bandeira do Brasil seria considerada 'propaganda eleitoral', a partir do início da campanha, por ter-se 'tornado marca de um lado da política no país'. Essa sandice foi logo posta por terra por decisão do TRE-RS, entendendo que a interpretação da juíza era pessoal e frisando o disposto no parágrafo 1° do artigo 13 da Constituição Federal, que concebe a bandeira como um dos símbolos nacionais.

Às vezes, soa como se o judiciário brasileiro tivesse seu próprio estandarte; sua própria bandeira. Que ganha vida própria, em total desserviço à Justiça do país.

Pelo andar da carruagem conduzida pelo TSE, logo teremos a mobilidade das cidades brasileiras travada, pelo impedimento de se acenderem as luzes verdes e amarelas dos sinais de trânsito, acusadas de promover campanha irregular em prol de uma candidatura específica. (Quanto às vermelhas, bem, provavelmente a corte não verá problema em permitir que essas sejam usadas.) Margaridas e girassóis, de repente, serão vetados nos jardins públicos, por fazerem essa mesma referência. Enfim, chifres diversos surgirão em cabeças de porcos e de cavalos, em surtos alucinatórios deflagrados de ofício, ou com o auxílio luxuoso de figuras saltitantes que orbitam junto à sagrada cúpula do judiciário, mesmo sem terem qualquer relevância ou autoridade para isso.

Mas, que interessante, toda essa falta de seriedade estampada em decisões recentes da suprema corte nos tem dado uma boa contribuição, apesar dos danos causados à sociedade: está abrindo os olhos de um número cada vez maior de pessoas, para a necessidade de mudanças profundas, radicais, na estrutura de comando e administração do Brasil.

E, a propósito, mexer com o nosso Sete de Setembro, que já se agigantou vivamente no ano passado, é atingir o brio de milhões de brasileiros, que não se perca isso de vista! São pessoas, muitas pessoas, incontáveis, que tornarão às ruas este ano, daqui a uma semana, para mostrar que todo poder emana do povo. Que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da verdadeira carta da democracia: a Constituição Federal.

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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Quem tem medo da verdade?

segunda-feira, 22 de agosto de 2022


Em 2004, o jornalista americano Larry Rohter, do New York Times, radicado no Brasil, na época, havia mais de 30 anos, publicou uma reportagem que quase custou a sua expulsão do país, a mando de Lula. A matéria tratava da conhecida predileção do ex-presidente por bebidas fortes, vício que estava afetando seu desempenho no gabinete do Palácio do Planalto.

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Bebo porque é líquido: se fosse sólido, eu comia, diz uma galhofa comum de se ouvir.

Naquela ocasião, o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, chegou a considerar inconveniente a presença do jornalista no território nacional e determinou o cancelamento de seu visto temporário, 'nos termos da Lei'. O que não ocorreu.

O conteúdo do texto censurado é irrelevante, independentemente de ser verdadeiro ou falso. Mas a reportagem também causou certa repulsa pela 'ousadia', da pretensa 'ofensa' de um estrangeiro falando mal de um presidente brasileiro no Brasil. Contudo, o que sobressai, nesse episódio, é o aspecto do respeito à liberdade de expressão, que, por sua vez, se reflete na liberdade de imprensa. Dois pilares fundamentais da democracia, para cuja defesa está prevista em Lei a reparação por eventuais excessos cometidos, se for o caso.

'É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato', diz o inciso IV do artigo 5° da Constituição Federal.

Lula já se revelava um detrator das liberdades, com essa reprovável tentativa de demonstração de força. E o desejo de pôr em prática esse controle nocivo sobre a difusão de informação continua à flor da pele, pelo que o candidato tem manifestado em seus discursos de postulante ao retorno ao Planalto.

Mas a preocupação do petista talvez tivesse outras razões, naquela época, que não somente a revelação do pendor incontido pelos alcoólicos. Larry Rohter estava investigando algo que Lula, o PT, o Supremo Tribunal Federal e meio mundo não quer que seja investigado: o rumoroso assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

Numa reportagem sob o título 'Acusações de corrupção vêm à tona com morte de prefeito brasileiro', Rohter afirmou que 'quando Celso Daniel foi sequestrado e morto a tiros, líderes do Partido dos Trabalhadores se apressaram em culpar esquadrões da morte ligados à direita'. A Polícia acabou fechando o caso alegando que o prefeito teria sido vítima de um 'crime comum'. Uma vez reaberto o processo, dois anos após o homicídio, firmava-se, entretanto, a tese de que ele havia sido morto numa contenda por causa de uma 'caixinha para fins eleitorais', de muitos milhões de dólares, que, segundo seus familiares, destinava-se a beneficiar o fundo de reserva para a campanha do PT.

Até hoje, este é um crime mal resolvido. Ou não resolvido. E Celso Daniel permanece como a assombração mais aterrorizante a puxar os pés dos petistas, durante as madrugadas.

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A lembrança de Larry Rohter, neste momento, advém justo da crítica que precisamos fazer à censura que Lula e seus asseclas preconizam. O controle da mídia virou questão de honra para esses 'democratas'. E tem quem defenda essa aberração, achando que está protegendo reputações e, em última análise, a 'verdade'!

O interessante é que as mídias já vêm exercendo, sem qualquer cerimônia e com toda a desfaçatez, uma forte censura à direita, ignorando o fato de que, com uma eventual eleição da esquerda, o 'Efeito Orloff' se consumará e eles, os socialistas de i-Phone, serão os próximos censurados! Eu (censurado) sou você (censor), amanhã. É assim que funciona, se eles não sabem.

Devemos deixar bem claro que a censura que a grande mídia - e a sua cúmplice, a toga - vêm fazendo não é à mentira: é à verdade. Que vem lutando, a duras penas, por vir à tona. E, quando ela finalmente se impuser, muito pouco sobrará dos seus prostituidores, travestidos de seus donos.

De uma forma ou de outra, a verdade sempre prevalece. Está sendo assim, pouco a pouco, com a revelação das atrocidades cometidas durante a fraudemia. E não será diferente, em relação às falácias que a esquerda, tão afeita a elas, vem se divertindo em jogar ao vento.

O Brasil, com seus bons brasileiros, é muito superior àqueles que têm feito um enorme esforço para destruí-lo. Nós temos um futuro. Eles, não.

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A propósito: durante esta semana, o Jornal Nacional fará entrevistas com os quatro candidatos mais bem cotados nas 'pesquisas', que surgem todos os dias, por todos os cantos, patrocinadas por todo tipo de interessado. A última do DataFolha, por exemplo, foi contratada...  Pela própria Globo!

Há muito que esse noticiário perdeu em credibilidade, já tendo caído em desgraça na confiança do telespectador. Mas - e hoje em dia sempre tem um 'mas' nessa moda do jornalismo adversativo - pode valer a sua audiência.

Nesta segunda-feira, dia 22, o entrevistado é Jair Bolsonaro, do PL. Na terça 23, Ciro Gomes, do PDT. Na quinta 25, Lula, do PT. E na sexta 26, Simone Tebet, do MDB.

Uma boa chance de avaliar plataformas de governo e contrapor discurso e prática, não negligenciando a avaliação do passado de cada um. Essa última avaliação, então, pode até decidir o seu voto, se você pensar privilegiando a razão em relação a simpatias ideológicas.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Alerta vermelho: uma geração perdida?

segunda-feira, 15 de agosto de 2022


A era da informação plena, de acesso universalizado, com um maná quase infinito de dados democraticamente disponíveis para todos, pode estar fomentando uma espiral de desperdício, jogando pérolas aos porcos. Toda essa maravilha informativa, pronta para consumo, pode sucumbir ante uma geração incapaz de perceber o tesouro que tem nas mãos, deixando escapar conhecimento valoroso por entre os dedos. Dedinhos que deslizam, rápidos, pelas telinhas dos celulares ou dos tablets, ou tamborilam, frenéticos, pelos teclados dos notebooks.

Um trabalho de angariação de décadas, documentando o progresso do intelecto humano, está em vias de se perder, pela desvirtuação de uma juventude presa ao embotamento proporcionado pelo colorido dos memes das telas dos smartphones.

Será que vamos nos permitir perder uma geração inteira para a indolência mental e a falta de vontade de crescer como pessoas?

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Uma pesquisa da Morning Consult, uma empresa de tecnologia, mais especificamente de inteligência de decisão, fundada em Washington há oito anos, constatou que 85% dos jovens de hoje têm, como sonho de vida, não profissões tradicionais, mas serem 'influenciadores digitais'. 'Influencers', como preferem, no termo da moda. Essa atividade ganhou o mundo digital, grandemente pelo poder de encantamento exercido por pessoas que, infelizmente, nada de profundo têm a oferecer. De repente, uma legião de carentes deu projeção a filmetes de conteúdo tosco, propiciando a ascensão meteórica - e o rápido engordamento das contas bancárias - de anônimos sem qualquer talento.

Eu já li que só existem 'influencers' porque há 'idioters'. Um extremo indesejável que, o que é triste, parece ser o padrão.

Aliás, o surgimento do aplicativo chinês, amplamente usado no mundo mas, eu imagino, não na mesma intensidade onde foi criado, é muito responsável pela explosão desse fenômeno. O app veio se somar a outras redes sociais e dar conta de uma enorme demanda por entretenimento, que surgiu com a eclosão dos criminosos lockdowns, dos 'fique em casa', em todo o planeta; que, por sua vez, se seguiu a outra criação chinesa: a peste experimental gestada em tubos de ensaio. Uma sequência lógica que, decerto, não é mera coincidência.

Pela primeira vez na História, temos filhos com quociente de inteligência menor que o dos seus pais! O QI da geração que está aí é inferior ao da geração anterior, o que é dramático. Embora haja, por tradição, a percepção recorrente, dos adultos mais maduros, de que os jovens com quem convivem 'não têm jeito', pela rebeldia e pelo enfrentamento das regras sociais, bem no espírito clássico do conflito de gerações, desta vez, a transformação operada pelo mundo digital pode estar exercendo uma influência daninha no desenvolvimento intelectual de uma legião de moços, que merecia o respeito de um cuidado maior.

Devemos nos permitir que a inteligência artificial tome as rédeas das vidas de todos nós - e, aí, não somente das dos jovens? Devemos deixar que ela nos dê o mundo mastigado, para que façamos a nós mesmos engolir, sem o prazer nem o trabalho de degustar? Devemos achar interessante que algoritmos, travestidos de seletores do nosso interesse pessoal, nos influenciem as escolhas, por simplificação ou preguiça de pensar?

Se, um dia, há cinquenta anos, a televisão-babá era o problema, com seus meros sete canais analógicos em VHF e imagens em preto e branco, quando ainda oferecia conteúdo de qualidade e aliado ao desenvolvimento intelectual, o que pensar da maravilha tecnológica do mundo, sem medida e sem controle, dentro de uma telinha portátil? Tudo pode?

Precisamos revaliar, com atenção e critério, o que queremos das facilidades que nos cercam e nos tentam. E não nos deixar cair em tentação.

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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Obrigado, Jô!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022


O Brasil amanheceu sem graça, literalmente, na última sexta-feira. Nas primeiras horas do dia 5 de agosto, perdemos José Eugênio Soares, inicialmente Joe Soares, definitivamente Jô Soares. Um dos maiores nomes do humor brasileiro, jornalista, escritor, dramaturgo, autor e diretor grandemente habilidoso, comediante dono de uma verve e de uma cultura que poucos têm o privilégio de ter.

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Formado para seguir carreira na diplomacia, Jô Soares era poliglota e dotado de um conhecimento certamente invejado por seus pares. E, como a maioria de seus pares, professava uma crença política de tons avermelhados, o que não o impediu de, por certo tempo, com suas 'meninas' (as Meninas do Jô), ser um crítico feroz do mal que os governos do PT fizeram ao Brasil. Pelo menos até aquela entrevista, de triste lembrança, com a ex-presidente Dilma Rousseff, no gabinete do Palácio Alvorada.

Política à parte, foram mais de seis décadas de dedicação a textos e produções sempre bem cuidados, pautados pelo argumento inteligente, digno do seu público. Com parcerias gloriosas, nas laudas e em cena, com gente do quilate de Max Nunes, Haroldo Barbosa, Renato Corte Real, Paulo Celestino, Felipe Caroni, Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e Francisco Milani, para citar apenas alguns dos notáveis, a quem você foi fazer companhia.

Obrigado por muitas e muitas segundas-feiras, por seus textos e esquetes, no Faça Humor não Faça a Guerra, no Satiricom, no Planeta dos Homens, no Viva o Gordo, no Veja o Gordo. Obrigado pelo mordomo Gordon, seu primeiro sucesso, na Família Trapo da Record dos anos 1960 e início dos 70. E por tantos e tantos tipos e bordões, que continuam na memória e nas bocas da gente.

Obrigado pelas entrevistas de fim de noite do Jô Soares Onze e Meia (que raramente entrava no ar às onze e meia!) e do Programa do Jô. Pela graça e pela emoção que você e seus convidados nos trouxeram, naquele competente e suave talk show, em conversas dignas das melhores e mais aconchegantes salas de estar. Obrigado pelo sexteto.

Obrigado pela leitura saborosa de O Xangô de Baker Street, Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, As Esganadas O Homem que Matou Getúlio Vargas, entre outros, e por nos legar uma tão detalhada autobiografia, nos seus volumes de A Vida de Jô.

Obrigado por tantos palcos, dos quais destaco Um Gordoidão no País da Inflação, O Gordo Ao Vivo e Viva o Gordo, Abaixo o Regime - peça esta de grande lembrança, e de grata lembrança, em especial, pelo acesso de riso que Dona Judith, minha mãe, ajudou a prolongar, numa inesquecível sessão no Teatro da Praia, em Copacabana.

Obrigado pelo riso farto, do tamanho de você. Pela mente criativa, sempre ávida por mais novidades. Obrigado por seu talento!

Beijo pro gordo!

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