Observador do Planeta

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Justiça sem juízo

segunda-feira, 29 de agosto de 2022


O dístico da Bandeira Nacional é categórico em relação ao que os brasileiros pretendem para o seu país: Ordem e Progresso. A expressão dessa ordem está na liberdade de expressão e de opinião; de escolha de preferências as mais diversas, das político-ideológicas às de credo e de opções de modo de vida; de exercício profissional amplo, regido somente pelo conhecimento técnico, amparado e norteado pela bússola moral. O progresso, por seu turno, vem das conquistas obtidas pela sociedade, por meio do exercício sadio e bem orientado dessa liberdade.

Entretanto, tem gente a quem a liberdade parece incomodar, ou até intimidar. Gente essa que, em reações absolutamente estapafúrdias, tenta impor normas saídas de sua mente doentia como se fossem dispositivos legais, estabelecidos de modo legítimo pela sociedade.

Qual é o limite da tolerância aos abusos cometidos pelo poder constituído ao qual deveriam caber a observância às leis e a mediação (em vez da multiplicação) de situações conflituosas?

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O ministro Alexandre de Moraes - a gente evita o quanto pode pronunciar esse nome, mas, funestamente, as circunstâncias nos obrigam a fazer isso, a cada nova suprema presepada - decidiu, depois 'desdecidiu', em parte, pelo menos, proibir a propaganda oficial do Governo Federal, em comemoração ao Bicentenário da Independência, veja só. Na visão tosca do nosso todo poderoso imperador eleitoral, haveria 'viés político' no conteúdo.

Na primeira decisão, que vetou a propaganda por completo, Xandão I, O Glande, fala, em seu despacho, em 'slogans e dizeres com plena alusão a pretendentes de determinados cargos públicos, com especial ênfase às cores que reconhecidamente trazem consigo símbolo de uma ideologia política'. A mais lustrosa das cabeças de nossas cortes, ela sim, com isso, conseguiu imprimir viés político-ideológico, de modo escancarado, às cores da bandeira do Brasil, praticamente estabelecendo que elas fossem prerrogativa ou propriedade de um grupo.

Pouco mais de um mês atrás, a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular do cartório eleitoral de Santo Antônio das Missões e Garruchos, duas cidades do oeste gaúcho, sendo esta última quase na fronteira com a Argentina, chegou a advertir a representantes de partidos políticos que a bandeira do Brasil seria considerada 'propaganda eleitoral', a partir do início da campanha, por ter-se 'tornado marca de um lado da política no país'. Essa sandice foi logo posta por terra por decisão do TRE-RS, entendendo que a interpretação da juíza era pessoal e frisando o disposto no parágrafo 1° do artigo 13 da Constituição Federal, que concebe a bandeira como um dos símbolos nacionais.

Às vezes, soa como se o judiciário brasileiro tivesse seu próprio estandarte; sua própria bandeira. Que ganha vida própria, em total desserviço à Justiça do país.

Pelo andar da carruagem conduzida pelo TSE, logo teremos a mobilidade das cidades brasileiras travada, pelo impedimento de se acenderem as luzes verdes e amarelas dos sinais de trânsito, acusadas de promover campanha irregular em prol de uma candidatura específica. (Quanto às vermelhas, bem, provavelmente a corte não verá problema em permitir que essas sejam usadas.) Margaridas e girassóis, de repente, serão vetados nos jardins públicos, por fazerem essa mesma referência. Enfim, chifres diversos surgirão em cabeças de porcos e de cavalos, em surtos alucinatórios deflagrados de ofício, ou com o auxílio luxuoso de figuras saltitantes que orbitam junto à sagrada cúpula do judiciário, mesmo sem terem qualquer relevância ou autoridade para isso.

Mas, que interessante, toda essa falta de seriedade estampada em decisões recentes da suprema corte nos tem dado uma boa contribuição, apesar dos danos causados à sociedade: está abrindo os olhos de um número cada vez maior de pessoas, para a necessidade de mudanças profundas, radicais, na estrutura de comando e administração do Brasil.

E, a propósito, mexer com o nosso Sete de Setembro, que já se agigantou vivamente no ano passado, é atingir o brio de milhões de brasileiros, que não se perca isso de vista! São pessoas, muitas pessoas, incontáveis, que tornarão às ruas este ano, daqui a uma semana, para mostrar que todo poder emana do povo. Que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da verdadeira carta da democracia: a Constituição Federal.

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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Quem tem medo da verdade?

segunda-feira, 22 de agosto de 2022


Em 2004, o jornalista americano Larry Rohter, do New York Times, radicado no Brasil, na época, havia mais de 30 anos, publicou uma reportagem que quase custou a sua expulsão do país, a mando de Lula. A matéria tratava da conhecida predileção do ex-presidente por bebidas fortes, vício que estava afetando seu desempenho no gabinete do Palácio do Planalto.

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Bebo porque é líquido: se fosse sólido, eu comia, diz uma galhofa comum de se ouvir.

Naquela ocasião, o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, chegou a considerar inconveniente a presença do jornalista no território nacional e determinou o cancelamento de seu visto temporário, 'nos termos da Lei'. O que não ocorreu.

O conteúdo do texto censurado é irrelevante, independentemente de ser verdadeiro ou falso. Mas a reportagem também causou certa repulsa pela 'ousadia', da pretensa 'ofensa' de um estrangeiro falando mal de um presidente brasileiro no Brasil. Contudo, o que sobressai, nesse episódio, é o aspecto do respeito à liberdade de expressão, que, por sua vez, se reflete na liberdade de imprensa. Dois pilares fundamentais da democracia, para cuja defesa está prevista em Lei a reparação por eventuais excessos cometidos, se for o caso.

'É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato', diz o inciso IV do artigo 5° da Constituição Federal.

Lula já se revelava um detrator das liberdades, com essa reprovável tentativa de demonstração de força. E o desejo de pôr em prática esse controle nocivo sobre a difusão de informação continua à flor da pele, pelo que o candidato tem manifestado em seus discursos de postulante ao retorno ao Planalto.

Mas a preocupação do petista talvez tivesse outras razões, naquela época, que não somente a revelação do pendor incontido pelos alcoólicos. Larry Rohter estava investigando algo que Lula, o PT, o Supremo Tribunal Federal e meio mundo não quer que seja investigado: o rumoroso assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

Numa reportagem sob o título 'Acusações de corrupção vêm à tona com morte de prefeito brasileiro', Rohter afirmou que 'quando Celso Daniel foi sequestrado e morto a tiros, líderes do Partido dos Trabalhadores se apressaram em culpar esquadrões da morte ligados à direita'. A Polícia acabou fechando o caso alegando que o prefeito teria sido vítima de um 'crime comum'. Uma vez reaberto o processo, dois anos após o homicídio, firmava-se, entretanto, a tese de que ele havia sido morto numa contenda por causa de uma 'caixinha para fins eleitorais', de muitos milhões de dólares, que, segundo seus familiares, destinava-se a beneficiar o fundo de reserva para a campanha do PT.

Até hoje, este é um crime mal resolvido. Ou não resolvido. E Celso Daniel permanece como a assombração mais aterrorizante a puxar os pés dos petistas, durante as madrugadas.

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A lembrança de Larry Rohter, neste momento, advém justo da crítica que precisamos fazer à censura que Lula e seus asseclas preconizam. O controle da mídia virou questão de honra para esses 'democratas'. E tem quem defenda essa aberração, achando que está protegendo reputações e, em última análise, a 'verdade'!

O interessante é que as mídias já vêm exercendo, sem qualquer cerimônia e com toda a desfaçatez, uma forte censura à direita, ignorando o fato de que, com uma eventual eleição da esquerda, o 'Efeito Orloff' se consumará e eles, os socialistas de i-Phone, serão os próximos censurados! Eu (censurado) sou você (censor), amanhã. É assim que funciona, se eles não sabem.

Devemos deixar bem claro que a censura que a grande mídia - e a sua cúmplice, a toga - vêm fazendo não é à mentira: é à verdade. Que vem lutando, a duras penas, por vir à tona. E, quando ela finalmente se impuser, muito pouco sobrará dos seus prostituidores, travestidos de seus donos.

De uma forma ou de outra, a verdade sempre prevalece. Está sendo assim, pouco a pouco, com a revelação das atrocidades cometidas durante a fraudemia. E não será diferente, em relação às falácias que a esquerda, tão afeita a elas, vem se divertindo em jogar ao vento.

O Brasil, com seus bons brasileiros, é muito superior àqueles que têm feito um enorme esforço para destruí-lo. Nós temos um futuro. Eles, não.

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A propósito: durante esta semana, o Jornal Nacional fará entrevistas com os quatro candidatos mais bem cotados nas 'pesquisas', que surgem todos os dias, por todos os cantos, patrocinadas por todo tipo de interessado. A última do DataFolha, por exemplo, foi contratada...  Pela própria Globo!

Há muito que esse noticiário perdeu em credibilidade, já tendo caído em desgraça na confiança do telespectador. Mas - e hoje em dia sempre tem um 'mas' nessa moda do jornalismo adversativo - pode valer a sua audiência.

Nesta segunda-feira, dia 22, o entrevistado é Jair Bolsonaro, do PL. Na terça 23, Ciro Gomes, do PDT. Na quinta 25, Lula, do PT. E na sexta 26, Simone Tebet, do MDB.

Uma boa chance de avaliar plataformas de governo e contrapor discurso e prática, não negligenciando a avaliação do passado de cada um. Essa última avaliação, então, pode até decidir o seu voto, se você pensar privilegiando a razão em relação a simpatias ideológicas.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Alerta vermelho: uma geração perdida?

segunda-feira, 15 de agosto de 2022


A era da informação plena, de acesso universalizado, com um maná quase infinito de dados democraticamente disponíveis para todos, pode estar fomentando uma espiral de desperdício, jogando pérolas aos porcos. Toda essa maravilha informativa, pronta para consumo, pode sucumbir ante uma geração incapaz de perceber o tesouro que tem nas mãos, deixando escapar conhecimento valoroso por entre os dedos. Dedinhos que deslizam, rápidos, pelas telinhas dos celulares ou dos tablets, ou tamborilam, frenéticos, pelos teclados dos notebooks.

Um trabalho de angariação de décadas, documentando o progresso do intelecto humano, está em vias de se perder, pela desvirtuação de uma juventude presa ao embotamento proporcionado pelo colorido dos memes das telas dos smartphones.

Será que vamos nos permitir perder uma geração inteira para a indolência mental e a falta de vontade de crescer como pessoas?

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Uma pesquisa da Morning Consult, uma empresa de tecnologia, mais especificamente de inteligência de decisão, fundada em Washington há oito anos, constatou que 85% dos jovens de hoje têm, como sonho de vida, não profissões tradicionais, mas serem 'influenciadores digitais'. 'Influencers', como preferem, no termo da moda. Essa atividade ganhou o mundo digital, grandemente pelo poder de encantamento exercido por pessoas que, infelizmente, nada de profundo têm a oferecer. De repente, uma legião de carentes deu projeção a filmetes de conteúdo tosco, propiciando a ascensão meteórica - e o rápido engordamento das contas bancárias - de anônimos sem qualquer talento.

Eu já li que só existem 'influencers' porque há 'idioters'. Um extremo indesejável que, o que é triste, parece ser o padrão.

Aliás, o surgimento do aplicativo chinês, amplamente usado no mundo mas, eu imagino, não na mesma intensidade onde foi criado, é muito responsável pela explosão desse fenômeno. O app veio se somar a outras redes sociais e dar conta de uma enorme demanda por entretenimento, que surgiu com a eclosão dos criminosos lockdowns, dos 'fique em casa', em todo o planeta; que, por sua vez, se seguiu a outra criação chinesa: a peste experimental gestada em tubos de ensaio. Uma sequência lógica que, decerto, não é mera coincidência.

Pela primeira vez na História, temos filhos com quociente de inteligência menor que o dos seus pais! O QI da geração que está aí é inferior ao da geração anterior, o que é dramático. Embora haja, por tradição, a percepção recorrente, dos adultos mais maduros, de que os jovens com quem convivem 'não têm jeito', pela rebeldia e pelo enfrentamento das regras sociais, bem no espírito clássico do conflito de gerações, desta vez, a transformação operada pelo mundo digital pode estar exercendo uma influência daninha no desenvolvimento intelectual de uma legião de moços, que merecia o respeito de um cuidado maior.

Devemos nos permitir que a inteligência artificial tome as rédeas das vidas de todos nós - e, aí, não somente das dos jovens? Devemos deixar que ela nos dê o mundo mastigado, para que façamos a nós mesmos engolir, sem o prazer nem o trabalho de degustar? Devemos achar interessante que algoritmos, travestidos de seletores do nosso interesse pessoal, nos influenciem as escolhas, por simplificação ou preguiça de pensar?

Se, um dia, há cinquenta anos, a televisão-babá era o problema, com seus meros sete canais analógicos em VHF e imagens em preto e branco, quando ainda oferecia conteúdo de qualidade e aliado ao desenvolvimento intelectual, o que pensar da maravilha tecnológica do mundo, sem medida e sem controle, dentro de uma telinha portátil? Tudo pode?

Precisamos revaliar, com atenção e critério, o que queremos das facilidades que nos cercam e nos tentam. E não nos deixar cair em tentação.

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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Obrigado, Jô!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022


O Brasil amanheceu sem graça, literalmente, na última sexta-feira. Nas primeiras horas do dia 5 de agosto, perdemos José Eugênio Soares, inicialmente Joe Soares, definitivamente Jô Soares. Um dos maiores nomes do humor brasileiro, jornalista, escritor, dramaturgo, autor e diretor grandemente habilidoso, comediante dono de uma verve e de uma cultura que poucos têm o privilégio de ter.

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Formado para seguir carreira na diplomacia, Jô Soares era poliglota e dotado de um conhecimento certamente invejado por seus pares. E, como a maioria de seus pares, professava uma crença política de tons avermelhados, o que não o impediu de, por certo tempo, com suas 'meninas' (as Meninas do Jô), ser um crítico feroz do mal que os governos do PT fizeram ao Brasil. Pelo menos até aquela entrevista, de triste lembrança, com a ex-presidente Dilma Rousseff, no gabinete do Palácio Alvorada.

Política à parte, foram mais de seis décadas de dedicação a textos e produções sempre bem cuidados, pautados pelo argumento inteligente, digno do seu público. Com parcerias gloriosas, nas laudas e em cena, com gente do quilate de Max Nunes, Haroldo Barbosa, Renato Corte Real, Paulo Celestino, Felipe Caroni, Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e Francisco Milani, para citar apenas alguns dos notáveis, a quem você foi fazer companhia.

Obrigado por muitas e muitas segundas-feiras, por seus textos e esquetes, no Faça Humor não Faça a Guerra, no Satiricom, no Planeta dos Homens, no Viva o Gordo, no Veja o Gordo. Obrigado pelo mordomo Gordon, seu primeiro sucesso, na Família Trapo da Record dos anos 1960 e início dos 70. E por tantos e tantos tipos e bordões, que continuam na memória e nas bocas da gente.

Obrigado pelas entrevistas de fim de noite do Jô Soares Onze e Meia (que raramente entrava no ar às onze e meia!) e do Programa do Jô. Pela graça e pela emoção que você e seus convidados nos trouxeram, naquele competente e suave talk show, em conversas dignas das melhores e mais aconchegantes salas de estar. Obrigado pelo sexteto.

Obrigado pela leitura saborosa de O Xangô de Baker Street, Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, As Esganadas O Homem que Matou Getúlio Vargas, entre outros, e por nos legar uma tão detalhada autobiografia, nos seus volumes de A Vida de Jô.

Obrigado por tantos palcos, dos quais destaco Um Gordoidão no País da Inflação, O Gordo Ao Vivo e Viva o Gordo, Abaixo o Regime - peça esta de grande lembrança, e de grata lembrança, em especial, pelo acesso de riso que Dona Judith, minha mãe, ajudou a prolongar, numa inesquecível sessão no Teatro da Praia, em Copacabana.

Obrigado pelo riso farto, do tamanho de você. Pela mente criativa, sempre ávida por mais novidades. Obrigado por seu talento!

Beijo pro gordo!

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