Observador do Planeta

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Conversar é preciso

segunda-feira, 30 de maio de 2022


Observo que as pessoas estão retomando os relacionamentos presenciais, ainda com um certo cuidado, às vezes, até, com alguma vergonha da clausura autoimposta. Mas, em todo caso, que bom que a vida fez a parte que lhe cabe e forçou a barra, para que as coisas voltassem aos devidos eixos.

A restrição quase absoluta à interação social foi um crime sem precedentes que se impôs à civilização, na pretensão de se estagnar uma gripe promovida, por autoridades de saúde - e por razões que ainda vamos conhecer em detalhe - a um apocalipse de proporções planetárias.

A propósito: em que nível você se anulou para a própria existência, se obrigando a fechar-se para o mundo, nesses últimos dois anos?

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Toda semana, sempre que posso, eu me permito frequentar uma das mais agradáveis redes sociais que eu conheço: a feira livre, montada numa praça perto da minha casa. O papo agradável com os feirantes já conhecidos, o aroma dos produtos expostos, as provas que nos são oferecidas, o alimento que levamos para casa... É um conjunto que me parece bastante harmônico e que eu conheço desde a infância. Quando, por sinal, a minha presença naquele ambiente dava-se por outra razão: minha mãe ia às compras e eu ficava brincando, com outras crianças, no playground, na Praça São Salvador, no Flamengo. Outra faceta da interação social propiciada pela feira de rua.

O comércio é uma das mais antigas atividades exercidas pela humanidade, cuja base é o próprio relacionamento entre pessoas. Novos meios de comunicação permitiram elementos intermediários nessa relação, colocando mais gentes nessa rede de gente. E a revolução digital expandiu ainda mais esses limites, tornando nossos computadores e telefones celulares verdadeiras vitrines, nas quais cabe o mundo.

Essa versão digital do comércio, contudo, trouxe um componente de impessoalidade a essa tratativa. Nas compras pela internet, a gente não fala com ninguém. Tudo é muito rápido, tanto quanto muito frio. É como se não houvesse mais ninguém nesse universo particular, em que estamos eu... E eu mesmo! Não se pode cumprimentar um atendente virtual com um Bom Dia, por exemplo. Ou pode-se, mas é uma coisa que nos faz sentir como malucos.

Desde criança, perdi o hábito de falar com pessoas de mentira. Eu até converso com o meu travesseiro (excelente conselheiro e confidente, por sinal); ralho com o corretor de texto do celular quando ele cisma de corrigir o que não é para ser corrigido; xingo o elevador que passa batido e me deixa plantado no corredor. E falo comigo mesmo, não admitindo ser interrompido nesse colóquio de foro íntimo. Mas, por favor, atendente virtual, especialmente aqueles que ganham nomes como Eduardo, Tomás, Alexa, a outra, 'Siri-gaita', isso, não!

A Organização Mundial que deveria ser da Saúde parece estar querendo emplacar um novo produto, em parceria com as Big Pharma. Igual àquele, criado há dois anos para matar as pessoas, de desgosto ou de solidão, sem perspectiva e sem amparo, trancadas em casa sem direito sequer a tomar sol na rua ou na praia. Se as pessoas tiverem aprendido a lição, não vão deixar isso acontecer de novo.

Redes de amizade, de coleguismo, de vizinhança, de radioamadores, sejam quais forem, funcionam como as redes de pesca, ou as redes de dormir, e com características bacanas: elas nos capturam, nos acolhem, fazem com que nos aconcheguemos a elas, nos ligam a outras pessoas, que possuem afinidades conosco. Rompem a solidão, aspecto no qual são importantíssimas para o equilíbrio emocional da gente. Às vezes, é para ser à distância, como no caso das ondas do rádio. Mas é sempre um prazer falar olho no olho, se for o caso à mesa, regando a conversa a café passado na hora ou um bom vinho.

Se navegar é preciso, e os intrépidos conquistadores portugueses nos mostraram isso lá no século 16, prosear também é. Muitos dos problemas que temos, se podem resolver com uma boa conversa. Afinal, fomos feitos para nos comunicar e trocar experiências e ideias.

Você também curte a companhia das pessoas, fazendo parte de grupos que se juntam, periodicamente, simplesmente para gozar a plenitude da vida? 

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Comentário simultaneamente publicado no Observador do Planeta e exibido em vídeo no YouTube, no canal InstantNews.1. 

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