Observador do Planeta

domingo, 3 de abril de 2022

Tempus votantis

segunda-feira, 4 de abril de 2022


Observo que as eleições evoluíram bastante, desde o tempo da cédula de papel até o voto eletrônico. Observo também que outros aspectos relacionados à manifestação da vontade popular, contudo...

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Quando eu me tornei eleitor, em 1982, aos 18 anos, o sistema de votação era o mesmo que se utilizava havia pelo menos duas ou três décadas. Votavam somente os maiores de idade, desde que alfabetizados. A exigência de saber ler e escrever, ainda que apenas funcionalmente, se justificava por uma pretensa capacidade de discernimento de um votante tido como letrado.

O título de eleitor era um papel acartonado, com nossos dados impressos em máquina de escrever e uma foto três por quatro colada, ou às vezes grampeada, no topo do documento. No verso, espaços para a marcação, a caneta, das datas de comparecimento. Sem marcas de segurança contra falsificação nem qualquer outro dispositivo sofisticado antifraude.

Trabalhei em todas as votações que aconteceram até 1994, último ano em que o voto era em papel e a urna era de lona. Fui voluntário por mais ou menos 15 ocasiões, entre eleições, primeiros e segundos turnos, plebiscitos e referendos. Foi uma gratificante experiência cívica.

Vivíamos apurações complicadas, com um monte de gente cercando as seções eleitorais, nas quais as cédulas cascateavam sobre as mesas dos escrutinadores, sob dezenas de pares de olhos vigilantes. Era assim que se fiscalizava a manifestação do desejo do cidadão que votava. E as contagens levavam dias, com multidões pelos ginásios da vida, abrindo cédulas, conferindo nomes, somando votos.

E aí veio a urna eletrônica, em 1996. Uma revolução, pela rapidez da apuração e pela confiabilidade que o novo equipamento apregoava. Verdade que, às vezes, candidatos apareciam com zero voto, ou seja, sem o voto até de si próprio! Mas, quem sabe, nesse caso a consciência tenha lhe sussurrado ao pé do ouvido, na intimidade da cabine, e ele achou por bem acabar com a sua própria farsa.

Houve disputas duríssimas, apertadas, quase todas refletindo o que as enquetes sondavam, nas ruas. As pesquisas tinham aspecto de honestas, pelo menos. E as bocas de urna, em regra mais exatas por extraírem a informação do votante na saída da seção eleitoral, pouco erravam em suas previsões.

Mas houve também coisas do arco da velha. Quando o (con)fuso horário parecia querer bagunçar o coreto.

Por exemplo, teve o Acre fomentando a expectativa de todo um Brasil varonil por três horas, graças ao horário de Verão, em 2014! E, quando finalmente o extremo oeste do país fechou suas urnas: surpresa! Com pompa, circunstância e toda a cara de pau do mundo, Dias Tóffoli, que presidia o TSE naquele pleito, anuncia que Dilma Rousseff já tinha sido reeleita, quisesse o Acre ou não, vencendo Aécio Neves, para presidente. Isso porque, enquanto isso, na Sala de Justiça, no caso, uma sala secreta da Justiça Eleitoral, os inexpugnáveis computadores, que não dormiram no ponto, já tinham feito a totalização dos votos de todos os mais de 5.700 municípios, automaticamente, poupando-nos a todos da enfadonha marcha das apurações.

E hoje, ai de quem supuser que não tenha havido lisura nessa operação de guerra, ou que ela não venha a dar o ar da graça, este ano: é terminantemente proibido duvidar da santidade dos apóstolos do olimpo supremo, sob pena de... Penalidades, que serão definidas a seu tempo, de acordo com a gravidade do insinuador denunciante e dos humores de nossas excelências, é claro.

Proconsult 82, o escândalo da contratação de uma empresa à parte, que não o SERPRO, para a contabilização dos votos, o que só aconteceu no Estado do Rio, é fichinha. Café pequeno perto de seis meses de violadores no inviolável templo dos desejos, no suntuoso tribunal que determina quem ganha e quem perde.

Já tivemos muitas pesquisas, com diferentes horizontes e prognósticos, que mudam a todo tempo. O Brasil vive um momento politicamente bem difícil, porém também sente a perspectiva de seguir no caminho de tornar-se um país cada vez melhor. Tudo depende da nossa disposição de fazer com que isso aconteça.

Você está preparado para ser o fiscal do seu próprio voto e do que o seu escolhido fará pela sociedade brasileira?

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Comentário simultaneamente publicado no Observador do Planeta e exibido em vídeo no YouTube, no canal InstantNews.1.

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