Observador do Planeta

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Música para os ouvidos. E para a alma

segunda-feira, 18 de abril de 2022


Observo que a música brasileira carece de renovação e criatividade. Existe até muita oferta, mas... Pouca coisa pode se dar o luxo de ser classificada como realmente boa. É verdade que gosto musical é algo subjetivo, atrelado à personalidade e às experiências de vida de uma pessoa. Pais com formação musical sólida, ainda que apenas como admiradores de música, ajudam a esculpir o ouvido e a definir as nossas preferências.

Mas, com toda a variedade de estilos, ritmos e trejeitos, quando a gente abre o zoom, para ver esse conjunto mais de cima, essa constatação, de marasmo musical, passa a fazer sentido. Porque nada sobressai.

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Eu sinto falta daquela boa MPB que se fazia nos anos 1980, uma década que costuma ser chamada de 'perdida', principalmente sob o aspecto da Economia, mas cujo adjetivo é bastante contestável. Nós tivemos uma safra excepcional, naqueles tempos. Tivemos o surgimento de talentos como Fagner, Djavan, Vinícius Cantuária, Biafra, Gonzaguinha. O despontar solo de gente que começou em bandas já consagradas, como Rita Lee, Ney Matogrosso, Baby (para mim sempre) Consuelo, Pepeu Gomes, Moraes Moreira. Tivemos o renascer de caras como Tim Maia, trazido de volta à cena com o prestígio que a sua história musical merecia.

E, de repente, o tempo passou, soprando ao vento mudanças radicais como talvez não devesse ter soprado. As boas coisas são como o vinho: melhoram com o tempo. Mas, se havia uma criatividade latente nas mentes de contestadores como Chico Buarque e Caetano Veloso, por exemplo, na época dos governos militares, foi como se a 'liberdade' conquistada no período da 'redemocratização' lhes houvesse arrefecido, além dos ânimos exaltados, a capacidade inventiva.

Sem saudosismo, mas apenas sendo fiel à minha percepção musical, não posso aceitar que a mineirice gostosa do Clube da Esquina ou os acordes eletrônicos suaves de um Azymuth tenham cedido espaço a canções que conseguem não nos tocar nem o coração nem a alma. Que só vendem e se popularizam pela insistência com que são impostas pelo marketing de sua divulgação.

Ou que são catapultadas ao estrelato pela fraude na aferição eletrônica de sua audiência, fato que se torna pior ainda quando o nível do produto oferecido não passa do rés do chão. Por sinal, uma parte expressiva da atual produção, permitam-me, 'musical' brasileira se resume a arremedos de música, concebidos às vezes para divulgar causas e propósitos específicos, de grupos quase sempre minoritários, sem talento nem qualquer compromisso com a excelência.

Quando não, são modismos até bem intencionados, porém fracos de conteúdo, com fraseamento melódico chinfrim e letras repletas de lugares comuns, apelativas, por vezes tangenciando o chulo, que refletem a indigência da bagagem dos que estão a lançá-los. A moderna tecnologia permitiu que todos fôssemos músicos em potencial, graças aos recursos de que se dispõe para gravar e divulgar. Ela só não nos dá o talento, que deveria coroar esse círculo. E ele faz falta!

Falando em talento, este sobrou, lá nos anos 1970 e início dos 1980, com a Era Disco. Eu tive o privilégio de viver a Discotheque como o gênero musical que movimentava as noites e as festas, naquela minha pós-adolescência. Não deve ter sobrado nada, dos clássicos do século XIX às trilhas de cinema, que não tivesse ganho uma versão para a época. Arranjos sofisticados, pulsantes, contagiantes, que nos arrancavam da cadeira e nos levavam para a pista de dança. Nos intervalos, ainda havia aquelas lentinhas, para dançar abraçadinho, de rosto colado, com a ternura que o nosso par certamente merecia.

O melhor de tudo é que eram músicas, as rápidas e as lentas, que nos jogavam para cima, falando de amor, de felicidade, de alegria de viver. O mundo tinha seus problemas, as pessoas também tinham os seus, mas a vida era prazerosa, de alguma forma, e a empolgação nos empurrava adiante, com a força de um trator, para vencer os obstáculos e manter o olhar para a frente.

Hoje, depois dessa recente provação pela qual passamos, temos alguns fantasmas a espantar. Uma boa forma de enxotá-los é dedicar-se a ouvir boa música. Daquelas que nos fazem sorrir, com o que a letra diz ou com o que ela nos faz lembrar. Daquelas que arrancam lágrimas dos cantos dos olhos, pela emoção que trazem à tona. Uma melodia bonita de verdade é mesmo capaz de muito.

Você já se observou permitindo-se emocionar com a música certa, que toca a sua alma?

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Comentário simultaneamente publicado no Observador do Planeta e exibido em vídeo no YouTube, no canal InstantNews.1.

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