Observador do Planeta

segunda-feira, 14 de março de 2022

Temos limites para a tecnologia?

segunda-feira, 14 de março de 2022


Observo que os avanços tecnológicos têm proporcionado uma vida mais simples, agradável e confortável às pessoas. Penso que todos observamos isso. Mas será que tudo precisa ser simplificado, a ponto de começarmos a ser alijados de tarefas do cotidiano que têm significado para nós e nos dão prazer em executar?

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De repente, eu começo a achar que estamos delegando muitas funções à 'máquina', aqui entendida em sentido amplo. E vou usar como exemplo para explicar esse raciocínio o automóvel. Sonho de consumo para muitas pessoas e, ao mesmo tempo, um bem que simboliza tanto uma conquista material quanto uma sensação de independência, já que, facilitando o nosso deslocamento, permite que nós façamos um sem-número de coisas.

Máquinas foram pensadas como um recurso para auxiliar o homem. Para substitui-lo em tarefas árduas, demoradas, repetitivas e, sobretudo, nada criativas. Enfim, uma substituição vantajosa, como propósito fundamental. Das ferramentas rudimentares à inteligência artificial, a tecnologia foi nos levando aos poucos a aparelhos que fazem quase tudo que se possa imaginar.

Até imaginar! Há máquinas que têm por atribuição pensar e agir por nós! Será que a função mais nobre do criador estaria sendo usurpada pela criatura? Onde estariam os limites dessa subversão?

Existem tarefas em que a perfeição ainda depende da intervenção direta do elemento humano. São, em essência, indelegáveis à máquina, por uma série de razões. Bem... Talvez, hoje em dia, nem mais tanto assim, a julgar por certas 'prerrogativas' detidas por algumas invenções modernas, que pensam e tomam decisões como se fossem seres iguais a nós.

Uma dessas 'maravilhas do mundo moderno', mantidas as maravilhas entre aspas, por prudência, são os carros inteligentes. O assunto foi destaque recentemente no site especializado Auto Papo, do Bóris Feldman, com uma matéria tratando do desenvolvimento desse tipo de tecnologia, pela Mercedes-Benz.

Dotados de pilotos automáticos, comandados por algoritmos sofisticados, esses carros inteligentes se autodirigem e, nesse aspecto, são capazes de prever uma infinidade de situações e de reagir de modo rápido e seguro a elas. E, a priori, fazem isso com uma excelência de que nem o homem seria capaz, dadas as falhas próprias da constituição humana, a que essas novidades não estariam sujeitas.

Pois bem, com essa funcionalidade, da direção autônoma, os fabricantes garantem ser possível que o condutor possa desviar sua atenção do trânsito para cuidar de outras coisas, sem prejuízo da sua segurança ao dirigir.

Pilotos automáticos de aviões, que há bastante tempo permitem esse tipo de coisa ao comandante, exercem essa mesma funcionalidade, mas no céu, praticamente em meio ao 'nada', enquanto o de um automóvel tem que lidar, o tempo todo, com inúmeros obstáculos à sua frente. É bem diferente. Embora cada situação tenha, claro, suas complexidades.

Na ficção do filme 'Eu, robô', o policial vivido por Will Smith se vê no drama de precisar tomar para si (irregularmente, segundo as regras existentes em 2035, um futuro já nem tão distante assim) o comando do seu próprio carro, para evitar ser morto por uma conspiração de máquinas. Uma falha ou manipulação de programação, a gente sabe, são passíveis de criar cenários parecidos. E aí, o criador vira refém da sua criação. O que se faz, então?

Infelizmente ainda temos situações nas quais toda a sofisticação dos pilotos automáticos de aeronaves não consegue impedir acidentes. Sensores que não transmitiram suas leituras quando esperado e necessário derrubaram um voo da Air France, em 2009. E os computadores de bordo foram incapazes de sinalizar o problema para a tripulação, o que ceifou as vidas de 228 pessoas.

Não que não haja aperfeiçoamentos e redundâncias de segurança, muito até pelo contrário. Aviões são os veículos mais seguros que existem graças a todo esse aparato de controle, feito por computadores, máquinas enfim, e isso nós temos que levar em conta. Mas convém olhar os avanços, sempre, com certa parcimônia.

Além do que, dirigir, para um grande número de condutores, é prazeroso. Privá-los desse prazer parece uma espécie de 'negacionismo', só para usar um dos termos da moda. Ter um piloto automático como acessório, para suprir determinadas facilidades para quem dirige, é perfeito. Mas, daí a isso tomar conta do carro para você... Ainda me parece algo assustador.

Outra novidade que os automóveis nos apresentam hoje é a forma de tê-los. Ou de não os ter: há quem prefira assim, pelo custo, pela falta de espaço onde guardá-los, ou até por filosofia de vida. Veículos de aluguel sempre existiram, desde que os carros foram inventados, e a locação é algo que funciona bem. Até para quem tem carro, por exemplo, se a pessoa está em outra cidade a trabalho, tendo chegado lá por outros meios.

O aspecto em discussão, agora, é o car-sharing: uma modalidade de aluguel que surgiu na Europa há alguns anos, pensada para ser mais ágil do que a locação tradicional. De todo modo, tanto quanto o aluguel de veículos, trata-se de uma forma de convencer as pessoas, sob o argumento da praticidade, a não possuírem carro. A abrirem mão, por uma série de razões, da propriedade de um automóvel.

Modelos de desenvolvimento urbano baseados na orientação definida pelo tráfego exploram esse viés. Morar, trabalhar e ter seus afazeres, tudo dentro de uma circunscrição geográfica, limitando a área na qual você se desloca, soa bem conveniente. A ideia é essa e são esses os preceitos que definem uma cidade verde, onde essa concentração faz com que se prescinda do uso do carro, com os deslocamentos sendo feitos por transporte público, bicicleta ou mesmo a pé, permitido um modo de vida defendido como 'mais saudável'.

Beleza. Mas... E quem gosta da ideia de ter o seu carro, seu patrimônio (até para o caso de uma necessidade repentina de venda para fazer dinheiro), um bem que guarda características pessoais tão intensas do seu dono, para passear, viajar, usufruir a sua liberdade de ir e vir, curtir a vida... Como fica isso? Seria legal alugar carros o tempo todo para satisfazer essas demandas? Sairia realmente mais barato custear essas necessidades, com os rendimentos auferidos por esse mesmo dinheiro aplicado, em vez de se investir num carro próprio, seu, do seu jeito?

Não estaríamos neste caso, uma vez mais, sendo 'negacionistas', abrindo mão dos nossos sonhos por outro tipo de 'avanço', mais mercadológico do que tecnológico embora sem deixar de sê-lo, avanço esse que, dependendo do jeito de ser da pessoa, não vai funcionar legal?

Você já tinha observado a questão sob esse ângulo?

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Comentário simultaneamente publicado no Observador do Planeta e exibido em vídeo no YouTube, no canal InstantNews.1.

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