Observador do Planeta

segunda-feira, 7 de março de 2022

Os poderes e as vicissitudes da lacração

segunda-feira, 7 de março de 2022


Observo muita frescura e pouca mensagem, em uma parcela considerável da propaganda que se faz atualmente no Brasil.

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As belas que me perdoem, mas a não-beleza parece ser fundamental. Isso mesmo, você entendeu direito: trata-se de uma paráfrase em cima da célebre afirmação de Vinícius de Moraes que, em raciocínio inverso, pedia perdão às feias por considerar a beleza como um atributo fundamental. O poetinha seria bombardeado pelos lacaios da lacração, hoje em dia, se emitisse uma opinião dessas. Com a qual, aliás, creio que a esmagadora maioria das pessoas de bom senso concorde. Independentemente do tipo de beleza de que se esteja falando, não restrita à formosura feminina.

Mas essa inversão de valores, que eu faço aqui, é justo para mostrar o estágio de patrulhamento ideológico a que chegamos. Falo da praga do tal 'polititicamente' correto, como eu chamo a hipocrisia moderna da autocensura que surgiu para poupar os sentimentos dos fracos de espírito e nulos de argumento. A beleza, encarada como uma agressão a tudo mais que não seja estritamente belo, vem sendo censurada: do documentário do Brasil Paralelo à publicidade de um dos mais respeitados grupos de perfumaria do país.

Os lacradores da esquerda complexada se apossaram do marketing do Boticário, a ponto de convencerem a empresa a banir do seu vocabulário - mais até do que simplesmente dos seus produtos - palavras como 'clareamento' (já execrada) e, pasmem, 'natural' e 'perfeito', essas últimas com sobrevida garantida até 2024, apenas para escoar peças já em estoque ou com o planejamento de vendas pronto.

Em suma: em vez de valorizarem as consumidoras pela conquista de uma aparência 'natural e perfeita', segundo seus desejos íntimos, pelo uso dos produtos da perfumaria, os 'mauqueteiros', esses homens (homens?) de 'mauketing', preferem simploriamente anular esses conceitos das vidas delas, para nivelar por baixo e reduzir todas a um novo padrão que, em virtude dessa insensatez, não é nem natural nem perfeito.

Ou, então, é a assunção inconsciente, de publicitários e diretoria, por via indireta, de que esses produtos não sejam tão bons assim, a ponto de essas cabeças até segunda ordem pensantes deixarem escapar seu temor de que a própria empresa esteja incorrendo em propaganda enganosa. Será?...

Essa bobagem semântica faz lembrar outro caso recente, de um tiro no pé por erro de abordagem. Eu me refiro à propaganda do Bradesco por um dia na semana sem carne. Em vez de uma abordagem respeitosa para com os amantes de um bom churrasco e, sobretudo, inteligente para com todos em geral, alguém achou genial incitar o não consumo de carne, apelando para o pretenso caráter saudável da iniciativa. O agronegócio, não sem razão, pulou nas tamancas e promoveu um boicote bem sucedido ao banco, inclusive migrando em peso suas contas para outras instituições. Um dos que agradeceram a lacração foi o Banco do Brasil, um histórico incentivador do campo, que pôs no ar um anúncio cujo tom valoriza essa nossa riqueza, responsável por mais de um quarto do PIB do país.

Teria sido mais sensato simplesmente propor ao cliente do Bradesco que aproveitasse a segunda para curtir um bom peixinho grelhado, sem precisar mexer com a turma que não vai arredar pé da picanha.

Às vezes, uma marca que ousa lacrar de graça também é punida pelo seu público consumidor pela forma como age, em relação a polêmicas que até nem lhe diriam diretamente respeito. Quando o jogador de vôlei Maurício Souza externou seu descontentamento com a nova versão em quadrinhos do Super-Homem, retratado como bissexual, ele foi acusado desonestamente por um colega do Minas Tênis de homofobia. O disse-me-disse e as controvérsias em torno do fato fizeram com que o clube cedesse à pressão e demitisse o atleta, em virtude de a Fiat e a Gerdau ameaçarem com o cancelamento do patrocínio.

A internet registrou inúmeros protestos de pessoas, clientes ou não, especialmente da Fiat, cuja imagem saiu bastante arranhada do episódio.

E tem também aquela manifestação de opinião pessoal inapropriada daquele que é contratado como garoto-propaganda e faz o seu protesto resvalar na imagem do patrocinador, que é o contratante. Dona Ivete Sangalo, mais uma abstêmia da Lei Rouanet e, segundo o portal Transparência Brasil, inadimplente para com a União, é um caso desses.

Num espetáculo em Natal, no final do ano passado, a moça resolveu encorajar um cântico deseducado contra o Presidente Jair Bolsonaro, que ela fez questão de endossar, entoando junto. Resultado: isso afetou seu contrato com os Supermercados Guanabara, do Rio de Janeiro, e ela sumiu das propagandas da rede, desde então. Passarinho que come pedra não pode se esquecer das prerrogativas de seu sistema digestivo, sob pena de sofrer as consequências.

Então, vale o aviso. Antes de lacrar, tenha em mente que quem com lacre fere, com lacre será ferido.

E você? Já tinha observado?

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Comentário simultaneamente publicado no Observador do Planeta e exibido em vídeo no YouTube, no canal InstantNews.1.

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